25.3.09

Cineclube Natal - 150ª sessão: Excalibur



A lenda de Arthur nas telas da Assembléia Legislativa
- Cineclube Natal exibe seu 150º filme na estréia do Cine Assembléia de 2009 -


Depois do hiato das férias, o Cineclube Natal retoma o Cine Assembléia, sua parceria com a Assembléia Legislativa, nesta quinta-feira, 26 de março, exibindo o já clássico Excalibur, do diretor John Boorman. A sessão, que será a 150ª - desde o início das exibições, em 20 de maio de 2005 - se inicia às 18:00 horas e a entrada bem como a pipoca - é gratuita.


As lendas do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda já inspiraram inúmeras obras na literatura, no cinema e no teatro. Desde as compilações feitas por Sir Thomas Malory, no século XV, até "As Brumas de Avalon", de Marion Zimmer Bradley. Mas é "Excalibur" que a lenda ganha sua melhor versão cinematográfica, tanto em forma quanto conteúdo.

A célebre espada que dá nome ao filme, a qual se acredita possuir um fantástico poder, foi passada durante várias e várias gerações, de rei para rei. Um dia, ela foi cravada na rocha por Uther Pendragon, interpretado por um jovem Gabriel Byrne, para que o destino decidisse quem seria o próximo soberano, o qual deveria ter o potencial necessário para retirá-la de sua nova morada. Eis que Arthur, um simples escudeiro, cuja concepção foi ajudada pela magia de Merlin com o fito de unificar o reino inglês, conquista quase casualmente este privilégio ao se tornar o único homem capaz de retirar Excalibur de sua paz temporária. Merlin, mestre do futuro rei, ciente desta predição, passa a ser, nesta versão, o representante vivo de um tempo prestes a ceder lugar à lógica e à ciência.

Do auge do reinado de Arthur, a partir do casamento com Guinevere, à sua decadência, quando é dominado por sua meia-irmã Morgana (a ganhadora do Oscar Helen Mirren), passando pela busca do Santo Graal – o Cálice Sagrado, do qual Jesus teria se servido na Santa Ceia -, desfila pelas telas uma explosão de cores e magia. Há algumas cenas simplesmente brilhantes, como a que Arthur, vivido pelo ator Nigel Terry, entrega a espada nas mãos de seu adversário, que não o aceita como rei, ajoelha-se diante dele e pede que o consagre como cavaleiro, ou outra na qual Arthur cavalga com seus cavaleiros ao som de "O Fortuna", com a terra renascendo ante a passagem do Rei.

Outro momento importante é seu encontro com Lancelot, que se tornaria seu melhor amigo e, por outro lado, seria involuntariamente a semente da discórdia na trajetória do monarca. Ele será o responsável pelo brilhante duelo entre os princípios éticos que regem a verdadeira amizade e o amor irresistível que arrebata o coração do cavaleiro "do lago".

Embora o próprio diretor admita uma ótica junguiana em seu filme, os fundamentos psicanalíticos de Boorman não encobrem a seqüência da narrativa. A visäo básica que guia a interpretaçäo do diretor é a de que a lenda do Rei Arthur, descreve um processo de individuaçäo, a instalaçäo da dissociaçäo neurótica, a identificaçäo do ego com o arquétipo do pai, a repressäo da anima e finalmente a resoluçäo da neurose.

A fotografia é sublime, recriando nas telas uma atmosfera de sonhos e pesadelos. A versão de Boorman, diretor de "Esperança e Glória", foi adaptada de "Le Mort D'Artur", de Thomas Malory, e representa um grandioso espetáculo medieval ante os olhares e expectativas de um público sedento duma visão renovadora sobre este fascinante tema milenar. Com Patrick Stewart, Gabriel Byrne e Liam Neeson em notáveis papéis, Excalibur é um prato cheio para os amantes do gênero.

Assista aqui ao trailer (em inglês) de Excalibur:



Sessão Cine Assembléia
Quinta-feira, 26 de março
18 horas
Assembléia Legislativa
Praça 7 de Setembro, s/n, Cidade Alta
Fone: 3232-5761
Entrada gratuita
Classificação indicativa: 14 anos


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[FICHA TÉCNICA: "EXCALIBUR"]
Título original: Excalibur
País: Estados Unidos / Reino Unido
Ano: 1981
Duração: 140 minutos
Cor: colorido
Idioma: inglês
Gênero: fantasia, aventura, drama
Estúdio: Orion Pictures Corporation
Roteiro: Thomas Malory (livro "Le Morte D'Arthur"), Rospo Pallenberg, John Boorman
Direção: John Boorman
Produção: John Boorman, Michael Dryhurst, Robert A. Eisenstein, Edgar F. Gross
Fotografia: Alex Thomson
Música: Trevor Jones
Direção de Arte: Tim Hutchinson
Desenho de Produção: Anthony Pratt
Cenografia: Bryan Graves
Figurino: Bob Ringwood
Edição: John Merritt, Donn Cambern
Elenco: Nigel, Therry, Helen Mirren, Nicholas Clay, Cherie Lunghi, Paul Geoffrey, Robert Addie, Gabriel Byrne, Keith Buckley, Liam Neeson, Corin Redgrave, Patrick Stewart, Nicol Williamson

Principais premiações: Prêmio de Melhor Contribuição Artística, no Festival de Cannes; Indicado ao Oscar de Melhor Fotografia; Indicado ao BAFTA de Melhor Figurino; Indicado a Palma de Ouro, no Festival de Cannes.

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18.3.09

Cineclube Natal - Mostra Semana da Francofonia


Cineclube Natal inicia parceria com Aliança Francesa apoiando a Semana da Francofonia


A Aliança Francesa, com apoio do Cineclube Natal, exibe três filmes africanos, de três colônias francesas, para iliustrar a Semana da Francofonia, evento o qual celebra a língua francesa ao redor do mundo. A mostra terá a participação do cineclube na organização técnica e debates pós-exibições, como instituição convidada. Será ainda o marco inicial de uma nova parceria entre as duas instituições, que deverão, a partir do mês de Abril, realizar uma sessão mensal com títulos franceses ou de língua francesa. A Mostra Semana da Francofonia ocorre em três dias: sexta 20/03 e sábado 21/03 às 18:30 e terça 24/03 às 17h na Aliança Francesa de Natal.


! Devido à problemas técnicos,
a programação sofreu uma alteração na ordem dos filmes,
mas que continuam no mesmo horário programado:


Sexta-feira, 20 - "Guimba - Um Tirano e Sua Época"
[MALI]


Sitakili, uma cidade do Sahel, vive sob a dominação de um homem, Guimba Dunbaya, e seu filho Janguiné. Kani Coulibaly é noiva de Janguiné desde que nasceu. Ela é agora uma bela moça, muito cortejada, mas nenhum pretendente ousa declarar-se, de tão grande o terror imposto por Guimba. Durante uma visita de cortesia a Kani, Janguiné apaixona-se por Meya, a mãe de sua noiva, e quer casar com ela. Para satisfazer o capricho do filho, Guimba expulsa Mambi, o marido de Meya. Este refugia-se então em uma aldeia de caçadores e organiza a revolta contra o tirano.

[FICHA TÉCNICA: "GUIMBA - UM TIRANO E SUA ÉPOCA" *]
Título original: Guimba - Un Tyran, Une Époque
País: Mali
Ano: 1995
Duração: 93 minutos
Cor: COLORIDO
Idioma: Francêsm, Língua Peul, Língua Bambara
Gênero: drama, comédia
Estúdio: Kora Films , Les Films De La Plaine, CNPC, DCN, WDR, DPC Du Burkina Faso
Roteiro: Cheick Oumar Sissoko
Direção: Cheick Oumar Sissoko
Produção: Idrissa Ouedraogo, Sophie Salbot
Fotografia: Lionel Cousin
Música: Pierre Sauvageot, Joëlle Dufour
Desenho de Produção: Boubacar Doumbia, Baba Keita
Figurino: Kandjoura Coulbaly
Edição: Kahéna Attia, Joëlle Dufour
Elenco: Flaba Issa Traoré, Bala Moussa Keïta, Habib Dembele, Lamine Diallo

Principais premiações: Prêmio Etalon de Yennenga para Melhor Atriz na FESPACO 1995


Sábado, 21 - "Pedaços da Identidade"
[CONGO]


Mani Kongo, o velho rei de uma província congolesa, decide partir em busca de sua filha, Mwana, que ele mandou para a Bélgica aos oito anos para estudar, e de quem está sem notícias há anos. O rei, que não quer abrir mão de nenhuma de suas tradições, vai cruzar personagens como Chaka-Jo, jovem mestiço benglo-congolês e falso motorista de táxi sem documento nem estadia, Viva Wa Viva, jovem elegante que se apossa de seu dinheiro, ou ainda Noubia, jovem cantora iluminada e solitária...Mani Kongo volta para casa com Mwana e Chaka-Jo, mas será que o regresso a África permitirá a estas personagens "sem lenço nem documento" se reconciliar com eles próprios?

[FICHA TÉCNICA: "PEDAÇOS DA IDENTIDADE" *]
Título original: Pièces D'Identités
País: República Democrática do Congo
Ano: 1998
Duração: 97 minutos
Cor: colorido
Idioma: Francês, Língua Wolof
Gênero: drama
Estúdio: Films Sud, Petrouchka Films, Videcam, Sol'oeil
Roteiro: Mweze Dieudonné Ngangura
Direção: Mweze Dieudonné Ngangura
Produção: Isabelle Mathy,
Mweze Dieudonné Ngangura
Fotografia: Jacques Besse
Música: Jean-Louis Daulne, Papa Wemba
Figurino: Agnès Duboius
Edição: France Duez, Ingrid Ralet
Elenco: Gérard Essomba, Hebert Flack, Dominique Mesa, Jean-Louis Daulne, Dieudonné Kabongo, Cecilia Kankonda, Tshilombo Lubambu, Alice Toen, Kis'Keya, Mwanza Gouutier, David Steegen

Principais premiações: Prêmio Etalon de Yennenga para Melhor Atriz na FESPACO 1999


Terça-feira, 24 - "Sarraounia"
[MAURITÂNIA]


Em uma aldeia da África, um velho homem confia sua filha ao seu amigo. Com este pai adotivo, ela aprende o manejo das armas, as verdades da vida, os modos de comunicação com os espíritos. Uma vez mulher, Sarraounia assume a liderança dos Aznas. Rainha, ela não procura dominar, mas luta pela independência e pela paz.

[FICHA TÉCNICA: "SARRAOUNIA" *]
Título original: Sarraounia
País: Mauritânia
Ano: 1986
Duração: 120 minutos
Cor: colorido
Idioma: Francês, Língua Peul, Língua Dioula
Gênero:
Estúdio: Direction De La Cinématographie Nationale Du Burkina Faso, Les Films Soleil Ô
Roteiro: drama, filme de época, guerra
Direção: Med Hondo
Produção: Med Hondo
Fotografia: Guy Famechon
Música: Pierre Akendengue, Abdoulaye Cissé, Issouf Compaore
Desenho de Produção: Jacques D'Ovidio
Edição: Marie-Thérèse Boiché
Elenco: Aï Keïta, Jean-Roger Milo, Féodor Atkine, Didier Sauvegrain

Principais premiações: Prêmio Etalon de Yennenga na FESPACO 1987



*Livres traduções para o português, uma vez que os títulos não possuem distribuição nacional.


Mostra Semana da Francofonia
sexta-feira (20.03), sábado (21.03) e terça-feira (24.03)
18:00 (dias 20 e 21)
17:00 (dia 24)
Aliança Francesa
Rua Potengi, 459 - Petrópolis
Fone: 3222-1558
Entrada gratuita



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11.3.09

As Vagas Estrelas da Ursa Maior na ótica do próprio diretor, Luchino Visconti



UM DRAMA DO NÃO-SER
sobre Vagas Estrelas da Ursa Maior

Gostaria antes de tudo de esclarecer os motivos pelos quais sempre falei a contragosto dos meus filmes em geral, e de Vagas Estrelas da Ursa em particular. Quando falo de cinema, prefiro limitar-me às opiniões de caráter geral, mesmo sobre meu próprio trabalho. É uma forma de respeito com o público, com o qual muitos cometem uma injustiça crendo que se vá ao cinema só para se divertir com uma história e ver como irá terminar. Na realidade o espectador de hoje paga o preço do ingresso também para saber o que o autor quis dizer-lhe, e para o saber a partir da tela, não de petições de princípio.

No caso de Vagas Estrelas da Ursa creio todavia ter batido todo recorde de laconismo mas, devendo respeitar ao menos por uma vez as regras do jogo, que pedem ao diretor dizer "o que é" o seu filme e "por que" o fez, interessa-me acrescentar alguma coisa de diferente. Por isso à primeira pergunta respondo: este filme é um giallo [gênero de narrativa policial tipicamente italiana, nde] diverso do habitual. Falou-se de uma Electra moderna, mas para explicar o que entendo neste caso por giallo citarei uma outra tragédia clássica: o Édipo Rei, um entre os primeiros gialli já escritos, em que o culpado é o personagem menos suspeito (o próprio Édipo no início da tragédia se define "o único estranho").

Pode dar-se que os espectadores da época sofocleana deixassem o teatro convencidos de que o verdadeiro culpado não fosse Édipo, mas o destino; ao espectador contemporâneo porém esta cômoda explicação não basta. Ele absolve Édipo só enquanto se sente por sua vez envolvido, como numa co-autoria.

Assim no meu filme há mortos e supostos responsáveis, mas não é dito quem são os verdadeiros culpados e as verdadeiras vítimas. Neste sentido a referência que eu mesmo fiz à Orestéia é mais que tudo de conveniência. Peguemos Sandra e Gilardini, por exemplo: uma se assemelha a Electra pelo motivo que a move, o outro a Egisto porque de fora do núcleo familiar, mas se trata de analogias esquemáticas. Sandra tem o rosto do justiceiro, Gilardini o do acusado, mas na realidade suas posições poderiam também resultar invertidas. A ambigüidade é o verdadeiro aspecto de todos os personagens do filme, salvo um, o de Andrew, o marido de Sandra. Ele gostaria de uma explicação lógica para tudo, e em vez disso se choca com um mundo dominado pelas mais profundas, contraditórias, inexplicáveis paixões. Este personagem é o mais próximo da consciência do espectador, que, por sua vez, exatamente porque é incapaz de encontrar uma solução lógica aos acontecimentos, deveria encontrar-se ao final envolvido, obrigado a se perguntar não tanto se a mãe e Gilardini são responsáveis pela morte do professor, ou Sandra responsável pela de Gianni, quanto se houve culpa aí e quais, e se não se esconde dentro de nós uma Sandra, um Gianni, um Gilardini.

Em suma, um giallo, onde tudo é claro no início e obscuro no final, como toda vez que cada um inicia o difícil empreendimento de ler dentro de si mesmo com a orgulhosa segurança de não ter nada a aprender, e se encontra depois com a angustiante problemática do não ser.

Creio com isso ter introduzido o discurso sobre "por que" fiz esse filme. Porque estou convencido, e não de agora, que um entre os meios, e não o menos importante, de observar a sociedade contemporânea e os seus problemas, e tentar encontrar-lhes uma solução não convencional nem estática, seja o de estudar a intenção de certos de seus personagens representativos, assim colocados e sob um certo ângulo. Não compartilho por isso a surpresa dos que, interessados em meu trabalho, perguntaram-se como pude ter escolhido uma história intimista, quase kammerspiel [literalmente do alemão, "peça de câmara", peça intimista de teatro ou de cinema muito freqüente no começo do Século XX, nde], após o fôlego histórico de filmes como Rocco e Seus Irmãos e O Leopardo.

O fato é que, se tiver sido bem-sucedido em meu objetivo, Vagas Estrelas da Ursa se parecerá mais que quanto hoje se creia aos meus filmes precedentes e constituirá a continuação de um discurso que iniciei há vinte anos. Do velho kammerspiel de Mayer e Lupu Pick terá só a relativa unidade de tempo e de lugar, o motivo dramático de tintas fortes, as abundâncias dos primeiros planos, isto é, coisas de todo acidentais.

A minha verdadeira atenção se voltou para a consciência de Sandra, para o seu desconforto moral, para o seu empenho em entender: as mesmas forças que em seu tempo moveram Ntoni, Livià, Rocco ou o príncipe Salina. E se em outro momento me servi de um baile, de uma batalha, do fenômeno da emigração interna, da conquista do pão de cada dia, aqui me estimularam o antigo enigma etrusco, Volterra, que é a perfeita expressão dele, o complexo de superioridade da raça hebraica, uma figura de mulher. Estes são os elementos "históricos", de fundo, e substanciais dentro de certos limites, pelos quais se move a vicissitude neste meu filme. Assim como são elementos psicológicos a conclamada exigência de justiça e de verdade, a insatisfação sentimental e sensual de Sandra, a sua crise matrimonial. E assim como, enfim, constitui-se essencial elemento ambiental o drama familiar (comum também aos personagens dos meus filmes que citei antes).

Movida pelo "incidente" (o retorno à casa paterna), a consciência de Sandra inicia o difícil caminho em direção da busca da verdade, uma verdade profundamente diversa daquela em que ela acreditava estar solidamente enraizada, uma verdade penosa e que talvez a um personagem como ela não será nunca concedido conquistar inteiramente.

De tal modo Sandra e as suas vítimas (ou os seus perseguidores) encontram um lugar no âmbito da sociedade contemporânea, ou descobrem que para isso não há mais lugar. E ajudam, através da sua tragédia, a melhor entender a realidade de nosso momento histórico e as suas finalidades.

Se me é permitido retomar um argumento que me foi caro no início da minha carreira, direi que hoje mais que nunca me interessa um cinema antropomórfico. Vagas Estrelas da Ursa é uma confirmação, não uma exceção, desse meu interesse dominante. Eis "por que" fiz este filme.

E agora algumas curiosidades, tanto para exaurir esta apresentação oferecendo ao leitor poucas informações simples.

No que concerne sua elaboração, isto é, "do argumento ao filme", Vagas Estrelas da Ursa foi talvez o mais trabalhoso dentre os meus filmes. Como se poderá notar a partir dos textos, muitas coisas mudaram também na fase de refilmagem. Isto é derivado do fato que a matéria do filme foi ganhando precisão dia a dia. Queria dizer que para isto contribuíram num certo sentido a estada em Volterra, o ambiente de palácio Inghirami onde rodei a maior parte das cenas do filme, o lento proceder do outono durante as refilmagens; e num outro sentido o conhecimento dos atores, alguns dos quais escolhidos no último momento.

Para a protagonista de fato tinha sempre pensado em Claudia Cardinale. O personagem de Sandra, melhor dizendo, tinha sido escrito a partir dela, e não só por aquilo que de enigmático se esconde atrás da aparente simplicidade desta atriz, mas também pela aderência somática da sua figura (sua cabeça, em especial) àquela que das mulheres etruscas foi transmitida. Não foram problemas aí nem mesmo para a minha cara amiga Marie Bell no papel da mãe, nem para Ricci no de Gilardini. Mais difícil resultou encontrar Gianni. Nunca tinha trabalhado com Sorel, e — uma vez que o escolho — tive que aprender a conhecê-lo, a adaptá-lo ao personagem de Gianni, dia a dia. Ainda mais aventurosa foi enfim a escolha de Michael Craig, chegado na Itália na véspera do início dos trabalhos. Também para ele se coloca o mesmo problema, mas creio que esta complicada gestação não tenha sido de todo acidental. Talvez estivesse na própria natureza do filme nascer de modo trabalhoso, assim como trabalhosamente se explicam os seus protagonistas. O próprio título criou não poucos problemas. Já contei como nasceu, acrescento agora que estou satisfeito com ele como nunca, especialmente depois que nos países estrangeiros ele foi adotado, não obstante tenha sido considerado no início muito difícil de mastigar.

E isto é tudo. O que pode dizer um diretor de seu filme sem exceder em zelo ou em presunção? Jean Renoir, que jovem foi um apaixonado ceramista, costumava dizer que a cerâmica e o cinema têm isto em comum: o autor sabe sempre aquilo que quer fazer, mas uma vez colocada a obra no forno não sabe nunca bem se aparecerá como ele quis, ou ao menos em parte diversa. Eu deixei longamente no forno Vagas Estrelas da Ursa. Longa foi a gestação e, terminadas as refilmagens, longo o período transcorrido antes de montá-lo. Ninguém mais que eu está hoje ansioso para saber se este "quiz de almas" terá tido o seu ponto exato de cozimento.

E para terminar, um agradecimento a todos os meus colaboradores, dos habitués (os meus assistentes, o cenógrafo, a assistente de cenografia, a figurinista, o montador; e sobretudo a roteirista) aos "noviços" (o câmera, o diretor de produção e o seu grupo, os técnicos de som). Devo a todos eles se este filme complexo e tortuoso nasceu do modo mais simples e sereno possível.

Luchino Visconti

Publicado originalmente no livro Vaghe stelle dell'Orsa..., Cappelli editore, Itália: Rocca San Casciano, 1965; tradução de Isabela Montello.

Cineclube Natal - 149ª sessão: As Vagas Estrelas da Ursa Maior



As estrelas de Visconti brilham no TCP

Neste domingo, dia 15 de março, o Cineclube Natal retoma sua famosa parceria com o Teatro de Cultura Popular Chico Daniel com a apresentação do clássico As Vagas Estrelas da Ursa Maior (Vaghe Stelle dell'Orsa, 1965), do diretor italiano Luchino Visconti. A sessão começa às 17:00 horas e a entrada custa R$ 2,00 (dois reais).

Indubitavelmente, Visconti foi um dos grandes diretores não só do cinema italiano, mas do mundo. Neste filme, o diretor revisita e atualiza a tragédia grega "Electra" (Ésquilo, Sófocles e Eurípedes), abordando abertamente o tema do incesto. Depois de uma festa de despedida, Sandra Dawson (Claudia Cardinale) e seu marido americano Andrew viajam à cidade natal dela, na província de Volterra, para uma homenagem feita pelos habitantes locais aos seu pai, um proeminente cientista que morrera num campo de concentração em Auschwitz. O casal é recepcionado pela governanta Fosca, sendo que Andrew fica fascinado com a casa. Sandra por sua vez possui problemas com seu padrasto Pietro Formari e sua mãe insana, sentindo muita falta de seu irmão Gianni Wald-Luzzati, que é um aspirante a escritor. Mas quando Gianni aparece na casa sem aviso, Andrew irá descobrir uma obscuro segredo do passado dos irmãos.

O filme Vagas Estrelas da Ursa Maior consiste noutro grande filme do artista Luchino Visconti. A trama sobre relações incestuosas e querelas familiares poderia ter gerado um melodrama barato nas mãos de outro diretor, mas Visconti explora a sensualidade, beleza e talento de Claudia Cardinale de forma a nos brindar com um drama familiar intrigante e erótico, sem nenhum tipo de salvação barata para os personagens. Neste particular filme, o diretor deixa de tratar a família sobre o ponto de vista social para abordar temas psicanalíticos ligados a problemas do inconsciente. Vencedor do Leão de Ouro de melhor filme, em 1965. Uma bela oportunidade dos natalenses conferirem este clássico, já que ainda não foi lançado comercialmente no Brasil.


Sessão Cine Vanguarda
Domingo, 15 de março
17 horas
TCP - Teatro de Cultura Popular "Chico Daniel"
Rua Jundiaí, 641, Tirol
Fone: 3232-5307
R$ 2.00
Classificação indicativa: 16 anos


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[FICHA TÉCNICA: "AS VAGAS ESTRELAS DA URSA MAIOR"]
Título original: Vaghe stelle dell'Orsa...
País: Itália / França
Ano: 1965
Duração: 105 minutos
Cor: preto e branco
Idioma: italiano, hebraico, francês, inglês
Gênero: drama
Estúdio: Vides Cinematografica
Roteiro: Suso Cecchi d'Amico, Enrico Medioli, Luchino Visconti
Direção: Luchino Visconti
Produção: Franco Cristaldi
Fotografia: Armando Nannuzzi
Desenho de Produção: Mario Garbuglia
Cenografia: Laudomia Hercolani
Figurino: Bice Brichetto
Edição: Mario Serandrei
Elenco: Claudia Cardinale, Jean Sorel, Michael Craig, Renzo Ricci, Fred Williams, Amalia Troiani, Marie Bell

Principais premiações: Leão de Ouro no Festival de Veneza e Melhor Fotografia Preto e Branco pelo Sindicato Nacional dos Críticos Italianos.




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5.3.09

CINECLUBE NATAL 2009 - Retomada das atividades


Caros amigos do Cineclube Natal,


É com muita satisfação que retomamos nossas atividades em 2009. E podemos dizer que estamos começando com o pé direito! O Cineclube Natal agora existe oficialmente como Associação Cultural, podendo assim, participar de mais editais e executar mais projetos, beneficiando a cena cultural natalense. E os planos para 2009 são muitos. Além de nossas habituais sessões Cine Café, Cine Assembléia e Cine Vanguarda, agora teremos também uma parceria com a Aliança Francesa. Já estamos elaborando o Goiamum Audiovisual 2009, participando ativamente do Fórum Audiovisual do RN (buscando o desenvolvimento do segmento) e muitas outras idéias estão tomando corpo para se concretizar.

Abrimos o ano com cinco sessões, sendo uma de nossa programação oficial – Cine Café com “Contos da Lua Vaga” – e outras quatro inseridas na programação cultural do Natal Shopping para comemorar o Dia Internacional da Mulher, a acontecer desta quinta-feira até domingo, com os filmes "As Horas", "Lanternas Vermelhas", "Kika" e "Camille Claudel".

Confiram então nossa programação, feita com muito carinho e sejam bem vindos!



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Mostra Dia Internacional da Mulher


Cineclube Natal exibe 4 filmes de temática feminina nas atividades do Natal Shopping para o Dia da Mulher

Como forma de homenagear o Dia Internacional da Mulher, o Cineclube Natal participa da programação Natal Shopping criada especialmente para comemorar a data. Serão exibidos 4 filmes, de quinta-feira, 05 a domingo, 08 de Março (Dia da Mulher). Os títulos, escolhidos para representar, das mais variadas formas, o universo feminino, foram:

Quinta-feira, 05 - "As Horas"
(trailer)


[FICHA TÉCNICA: "AS HORAS"]
Título original: The Hours
País: Estados Unidos / Inglaterra
Ano: 2002
Duração: 114 minutos
Cor: colorido
Idioma: inglês
Gênero: drama
Estúdio: Paramount Pictures, Miramax Films, Scott Rudin Productions
Roteiro: Michael Cunningham (romance), David Hare
Direção: Stephen Daldry
Produção: Scott Rudin, Robert Fox
Fotografia: Seamus McGarvey
Música: Philip Glass
Direção de Arte: Nick Palmer
Figurino: Ann Roth
Edição: Peter Boyle
Elenco: Nicole Kidman, Julianne Moore, Meryl Streep, Stephen Dillane, Miranda Richardson, John C. Reilly, Toni Collette, Ed Harris, Claire Danes, Allison Janney, Jeff Daniels

Principais premiações: Globo de Ouro de Melhor Filme (Drama) e Melhor Atriz (Nicole Kidman); Oscar de Melhor Atriz (Nicole Kidman); BAFTA de Melhor Atriz (Nicole Kidman) e Melhor Trilha Sonora (Philip Glass); Prêmio da Associação dos Críticos de Los Angeles de Melhor Atriz (Julianne Moore); Urso de Prata do Festival de Berlim para o elenco (Meryl Strepp/Nicole Kidman/Julianne Moore); Indicado ainda a mais 8 Oscar, 9 BAFTA, 5 Globos de Ouro e ao Leão de Ouro (Festival de Berlim).

Classificação indicativa: 14 anos


Sexta-feira, 06 -
"Lanternas Vermelhas"
(trailer)


[FICHA TÉCNICA: "LANTERNAS VERMELHAS"]

Título original: Da hong deng long gao gao gua
País: China / Hong Kong / Taiwan
Ano: 1991
Duração: 125 minutos
Cor: colorido
Idioma: mandarim
Gênero: drama
Estúdio: Century Communications, China Film Co-Production Corporation, ERA International, Salon Films
Roteiro: Su Tong (romance), Ni Zhen
Direção: Zhang Yimou
Produção: Fu-Sheng Chiu, Hsiao-hsien Hou, Wenze Zhang
Fotografia: Lun Yang, Fei Zhao
Música: Naoki Tachhikawa, Jiping Zhao
Direção de Arte: Juiping Cao
Figurino: Huamiao Tong
Edição: Yuan Du
Elenco: Li Gong, Caifei He, Jingwu Ma, Cuifen Cao, Qi Zhao, Lin Kong, Jin Shuyuan

Principais premiações: BAFTA de Melhor Filme Estrangeiro; Leão de Prata e Melhor Diretor no Festival de Veneza; Prêmio de Melhor Fotografia pela Associação de Críticos de Los Angeles; Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Leão de Ouro (Festival de Veneza).

Classificação indicativa: 14 anos



Sábado, 07 -
"Kika"
(trailer)


[FICHA TÉCNICA: "KIKA"]

Título original: Kika
País: Espanha / França
Ano: 1993
Duração: 114 minutos
Cor: colorido
Idioma: espanhol
Gênero: drama, comédia
Estúdio: Ciby 2000, El Deseo S.A.
Roteiro: Pedro Almodóvar
Direção: Pedro Almodóvar
Produção: Augustín Almodóvar
Direção de Fotografia: Alfredo F. Mayo
Direção de Arte: Alain Bainéé, Javier Fernández
Figurino: José María de Cossío, Gianni Versace
Edição: José Salcedo
Elenco: Verónica Forqué, Peter Coyote, Victoria Abril, Àlex Casanovas, Rossy de Palma, Santiago Lajusticia, Anabel Alonso, Bibiana Fernández, Francisca Caballero

Principais premiações: Goya de Melhor Atriz (Verónica Forqué) e mais 7 indicações ao Goya: Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhor Desenho de Produção, Melhor Supervisão de Produção, Melhor Som, Melhores Efeitos Especiais e Melhor Atriz Coadjuvante.

Classificação indicativa: 16 anos



Domingo, 08 -
"Camille Claudel"
(cena)

[FICHA TÉCNICA: "CAMILLE CLAUDEL"]
Título original: Camille Claudel
País: França
Ano: 1988
Duração: 175 minutos
Cor: colorido
Idioma: espanhol
Gênero: drama, biografia
Estúdio: Gaumont, Les Films Christian Fechner, Lilith Films I.A., Antenne-2, Films A2, DD Productions
Roteiro: Reine-Maria Paris (livro), Bruno Nuytten, Marilyn Goldin
Direção: Bruno Nuytten
Produção: Isabelle Adjani, Bernard Artigues, Christian Fechner
Fotografia: Pierre Lhomme
Música: Gabriel Yared
Desenho de Produção: Bernard Vézat
Figurino: Dominique Borg
Edição: Joëlle Hache, Jeanne Kef
Elenco: Isabelle Adjani, Gérard Depardieu, Laurent, Grévill, Alain Cuny, Maxime Leroux, Madaleine Robinson

Principais premiações: Urso de Prata (Isabelle Adjani) no Festival de Berlim; César de Melhor Filme, Melhor Atriz (Isabelle Adjani), Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Música e Melhor Desenho de Produção; Indicado aos Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz (Isabelle Adjani), ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, ao Urso e Ouro (Festival de Berlim) e a mais 7 prêmios no César.

Classificação indicativa: 14 anos


Mostra Dia Internacional da Mulher

de quinta-feira, 05 a domingo, 08 de março
18:30 (quinta a sábado)
18:00 (domingo)
"Espaço Mulher" - Natal Shopping
(segundo piso, loja 301; ao lado da loja C&A)
Av. Senador Salgado Filho, 2234 - Candelária
Fone: 3209-8199
Entrada gratuita


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Confira abaixo o restante da programação do Natal Shopping para o Dia Internacional da Mulher:

Natal Shopping terá programação e espaço especiais para a mulher*


No Natal Shopping, março é definitivamente o mês da mulher. As homenagens prestadas pelo empreendimento a elas terão um espaço exclusivo de serviços oferecidos às clientes e por uma programação toda especial do projeto Música na Praça ao longo deste mês.

Nas sextas-feiras de março, a Praça de Alimentação do shopping será palco para as apresentações do músico Diogo Guanabara, que renovou seu repertório para homenagear as mulheres. Já nos sábados e domingos, os clientes serão brindados com apresentações da jovem cantora Emille Dantas soprano de formação erudita que fará duos com o violonista, guitarrista e compositor Juliano Ferreira (foto dos dois em anexo). O Música na Praça começa sempre às 19h30.

Já no próximo domingo, dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, haverá uma programação especial, começando às 12h30 com um show de samba da cantora Camila Masiso.

Espaço

E ainda dentro da programação especial voltada para a mulher neste mês, o Natal Shopping também inaugura, nesta quinta-feira, 5, o seu Espaço Mulher, que funcionará no segundo piso, na loja 301. O espaço funcionará até o domingo, sempre das 15h às 21hcom várias atividades, dentre elas o exclusivo serviço de consultoria de moda que atenderá as clientes, num espaço reservado, dando dicas de compras de acordo com cada estilo. Haverá ainda temáticas de etilos de moda, com produções destinadas ao perfil de cada mulher, ambos com participação da área de Moda do Senai RN.

Outro destaque do espaço é a parceria com o Cineclube Natal que, sempre a partir das 18h30, apresentará sessões de filmes em DVD para as clientes. Entre os filmes que irão ser apresentados, destaque para As Horas [Stephen Daldry, 2002] (quinta-feira), Lanternas Vermelhas [Zhang Yimou, 1991] (sexta), Kika [Pedro Almodóvar, 1993] (sábado), e Camille Claudel [Bruno Nuytten, 1988] (domingo).

Além disso, a livraria Siciliano fará uma exposição de literatura, com dicas de publicações de interesse do mundo feminino. O clima será arrematado com o Espaço Beleza, capitaneado por O Boticário, com dicas de beleza e maquiagem e pelo Espaço Bem Estar, com lugar para relaxamento, yoga, alongamento e massagem expressa. O Espaço Mulher terá ainda um lounge com DJs tocando nos happy hours.

É isso! No Natal Shopping, o Dia Internacional da Mulher será comemorado com aquilo que todas elas adoram: moda, beleza e comportamento, num espaço que terá o universo feminino como temática principal.

* Luciano Kleiber - Assessoria de Imprensa do Natal Shopping (84) 9963 0144


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Cineclube Natal - 148ª exibição: Contos da Lua Vaga


O retorno do Cineclube Natal em grande estilo

Nesta sexta-feira, dia 06 de março de 2009, o Cineclube Natal, retomando sua cativa parceria com o Nalva Melo Salão Café, apresentará, às 20:00 horas, o filme japonês Contos da Lua Vaga ("Ugetsu Monogatari", 1953), do diretor Kenji Mizoguchi. A entrada custa R$ 2,00 (dois reais) e a classificação etária é de 14 anos.

O filme Contos da Lua Vaga, obra-prima do diretor japonês Kenji Mizoguchi (1898-1956), talvez seja o mais famoso de sua curta carreira (apenas dez anos), que lhe rendeu a fama de "cineasta das mulheres", em decorrência de sua paixão em retratar o sofrimento e espírito de sacrifício femininos. O nascedouro dessa predileção se dá na infância do diretor japonês, quando o seu pai se envolveu em negociações infelizes, que resultaram na dilapidação da fortuna familiar, levando a irmã a ser vendida como gueixa - fato retratado melancolicamente em outro filme de Kenji Mizoguchi, o belo "Oharu, a vida de uma cortesã".

Mizoguchi, um cineasta formado a partir desses traumas, conta a história de Contos da Lua Vaga a partir de dois homens, mas eles são apenas o veículo para versar sobre os sacrifícios e a sabedoria feminina. Dois irmãos oleiros, durante o Japão Feudal do século 16, fogem com suas esposas da guerra civil e acabam separando-se delas. Um sonha em ser samurai, e larga tudo, inclusive a mulher que ama, para provar a ela - e a si próprio - que seu sonho não é apenas uma bobagem. O outro almeja tornar-se rico com seu trabalho para dar o melhor para a esposa, que no entanto quer apenas ter ele ao seu lado.

Mizoguchi, em seu mais famoso filme, usa uma narrativa fragmentada, partindo de indivíduos para atingir a um coletivo. Nesse aspecto, Contos da Lua Vaga, considerada sua obra-prima, não tem a força dos filmes de Akira Kurosawa, nem o profundo mergulho na alma dos personagens de Yasujiro Ozu, mas tem uma aura própria: é arte em estado puro a serviço da reconstrução de uma história escrita em tábuas de madeira no Japão Feudal de 1776 ( por Ueda Akinari ), e versa sobre os temais mais caros ao diretor: o universo feminino e os sacrifícios que elas passam, normalmente, caladas.

O diretor trata com extremo cuidado essa fábula, tratando justamente da ambição sem consciência que leva à ruína e tragédia. Não aos homens que buscam miragens, mas sim às suas sensatas e amorosas esposas. Tudo é narrado com poesia e grande beleza visual em uma cuidadosa reconstituição de época, com muitos planos gerais em belos enquadramentos e movimentos de câmera delicados e discretos e mais um toque de sobrenatural, com a predileção que os japoneses têm por fantasmas e espíritos que voltam do além - mas não convém aqui estragar a maior surpresa do filme.

O cinema de Mizoguchi tem sua força própria no cuidado formal com que pinta cada "frame" como um quadro. Também prima por buscar soluções atípicas quando o cinema oriental, então, considerava os filmes uma retratação da realidade, e por buscar soluções para a história que surpreendem o público não só pelo insólito – e estranhamente poético – mas também por romper com a idéia do destino comumente dado à mulheres de bem, mães dedicadas e dispostas a tudo pela família. Mistura vários gêneros construindo um misto de sentimentos que marca de forma diferente cada espectador.

Enfim, um grande clássico do cinema japonês, ganhador do Leão de Prata em Veneza - e que, curiosamente, concorreu ao Oscar de melhor figurino. A cena mais lembrada do filme é a do lago, que sintetiza seu clima misterioso - lembrando que as filmagens se passaram em estúdio. Conta com a participação da grande atriz japonesa Machiko Kyo (a mesma de "Rashomon", de Kurosawa), grande dama do cinema nipônico.

Assista aqui a algumas cenas (quadro-a-quadro) de Contos da Lua Vaga:


Sessão Cine Café
Sexta, 06 de março
20 horas
Nalva Melo Café Salão
Av. Duque de Caxias, 110, Ribeira
Fone: 3212-1655
R$ 2.00
Classificação indicativa: 14 anos


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