21.4.10

Cineclube Natal: 187ª sessão: Num Ano de 13 Luas

Fassbinder volta às telas de Nalva Melo Café Salão

Nesta sexta-feira, dia 23 de abril do corrente ano, dando início ao ciclo de obras cinematográficas dedicadas às mais variadas manifestações de travestismo, intitulado "O Travesti: a revelação artística", o Cineclube Natal em parceria com o Nalva Melo Salão Café apresentará o filme Num Ano de 13 Luas (In einem Jahr mit 13 Monden, 1978), do cultuado diretor alemão Rainer Werner Fassbinder. A sessão tem início às 20:00 horas, e a entrada custa R$ 2,00. A classificação indicativa é dezoito anos.



O filme baseia-se na peça homônima do diretor, contando a história do travesti Erwin/Elvira Weishaupt, que trocou de sexo pelo amor de um homem que, de dono de bordel, transformou-se num dos poderosos figurões da cidade de Frankfurt. Durante os últimos cinco anos de sua vida, Erwin/Elvira vaga pela cidade em companhia de sua amiga prostituta, encontrando em seu caminho pessoas fracassadas, que sobrevivem em um ambiente marcado pela frieza, pela solidão, pela brutalidade e pelo desespero. Não se enganem pelos momentos satíricos e surreias eventualmente oferecidos pela película: este é, com certeza, um dos filmes mais sombrios de Fassbinder.

Essa verdadeira preciosidade cinematográfica, uma jóia meio esquecida do cinema alemão, trata, além do travestismo propriamente dito, de um tema no mínimo diferente: a mutilação genital - a exemplo do que Almodóvar, discípulo de Fassbinder, faria em "A Lei do Desejo". Elvira, quando ainda era Erwin, tinha esposa e uma linda filha, trabalhando como um másculo açougueiro num matadouro, até que se apaixonou perdidamente por um colega de trabalho e, num impulso inexplicável de agradar seu amado, tomou um avião para Casablanca, no Marrocos, e se submeteu à uma cirurgia de mudança de sexo. Entretanto Elvira não contava com a difícil adaptação social e psicológica para sua nova condição e, para completar a tragédia, seu amante não gosta do resultado e a abandona à própria sorte.

Talvez seu filme mais denso emocionalmente, Num Ano de 13 Luas é uma viagem extremamente pessoal através da mente de um diretor talentoso e atormentado. Os temas abordados são universais, tais como amor não-correspondido, crise de identidade, infância traumática, mas o resultado obtido por Fassbinder é irreverente o suficiente para fazer com que a platéia sinta-se ao mesmo tempo hipnotizada e intimidada pela guinadas poéticas - ora tragédia, ora drama - da narrativa. Fassbinder tem um olhar cruel e impiedoso com sua personagem Elvira, talvez o mesmo que lançasse sua própria vida, material recorrente em tantos de seus melhores filmes. Erwin/Elvira evoca desespero e neuroses, tudo envolto pela arquitetura fria de concreto de Frankfurt, numa busca fútil por conforto num universo completamente desolado pelos grilhões masculinos.

Tendo tais considerações em mente, este não se trata de um filme "fácil". Na verdade, em alguns momentos a dor de Elvira é absolutamente tangível, o que torna difícil a experiência de assistir Num Ano de 13 Luas sem sentir-se afetado por suas imagens. Um exemplo disso é a sequência das vacas no matadouro. Este é um momento crucial na vida da personagem, quando volta, completamente travestida para seu antigo emprego e pede seu posto de açougueiro de volta. Fassbinder acentua a sensação de dilaceramento emocional de Elvira mostrando ao espectador o abate - real - dos bovinos. A mensagem não pode ser mais clara: nesta vida, nós também "vivemos" apenas à espera do abate, tal qual bestas. Esse pessimismo artístico de Fassbinder ganha ares mais trágicos se considerarmos o suicídio de seu amante, bem como sua própria morte trágica de overdose de cocaína.

Nos aspectos técnicos, o filme igualmente brilha. Os cenários possuem cores quentes, vibrantes, deixando clara a referência - e reverência - ao diretor Douglas Sirk. A escolha das músicas é soberba, com homenagens ao clássico viscontiano "Morte em Veneza" (filme sobre amor não correspondido e desejo), bem como "Amarcord" (com sua temática de regresso à infância), fazendo com que o filme seja ainda mais pungente, claramente o trabalho de um diretor no total controle de sua arte. Todos estão convidados à sessão.

AVISO: Como explicitado no release, existe uma cena num açougue que é extremamente gráfica, mostrando o processo de abate real de bovinos. É uma cena crucial para o desenvolvimento da personagem Elvira mas os espectadores deverão estar preparados, pois não poupa detalhes e tem um impacto emocional tão grande quanto o documentário de Geroges Franju "O Sangue das Bestas" (1949).

Assista aqui ao trailer (com legendas emm francês) de Num Ano de 13 Luas:



Sessão Cine Café

Sexta, 23 de Abril
20 horas
Nalva Melo Café Salão
Av. Duque de Caxias, 110, Ribeira
Fone: 3212-1655
R$ 2.00
Classificação Indicativa: 18 anos


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[FICHA TÉCNICA: "NUM ANO DE 13 LUAS"]
Título original: In einem Jahr mit 13 Monden
País: Alemanha Ocidental
Ano: 1978
Duração: 124 minutos
Cor: colorido
Idioma: alemão
Gênero: drama
Estúdio: Filmverlag der Autoren, Pro-ject Filmproduktion, Tango Film
Roteiro: Rainer Werner Fassbinder
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Produção: Rainer Werner Fassbinder
Fotografia: Rainer Werner Fassbinder
Música: Peer Raben
Direção de Arte: Rainer Werner Fassbinder
Edição: Rainer Werner Fassbinder, Juliane Lorenz
Desenho de Produção: Franz Vacek
Elenco: Volker Spengler, Ingrid Caven, Gottfried John, Elisabeth Trissenaar, Eva Mattes, Günther Kaufmann, Lilo Pempeit, Isolde Barth


Mais sobre Rainer Werner Fassbinder:

Uma mente em fúria

Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) fez mais de 40 filmes e quase 20 peças de teatro como ator, diretor e escritor em apenas 15 anos de carreira. Nessa fúria desmesurada, conseguiu a proeza de roteirizar, dirigir e produzir "Berlin Alexanderplatz", considerado o filme mais longo então filmado, com 15 horas de duração. Como resultado de sua obsessão com o trabalho, não dormia e tinha um péssimo humor. Filmava sempre com a mesma equipe e tratava todos aos berros, sem nenhuma educação.

Fez questão de fazer publicidade de sua vida pessoal, uma mistura de sexo alternativo, drogas e atitudes escandalosas. Hoje não teria o mesmo impacto, mas, na década de 70, horrorizou a comunidade cinematográfica com seus problemas pessoais, em especial a morte do amante, que cometeu suicídio no apartamento do cineasta.

Seu primeiro filme foi "O Amor é Mais Frio que a Morte" (1969), mas o sucesso viria com "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant" (1972), versão para o cinema de sua própria peça. Já em 1974 venceu o prêmio da Crítica no Festival de Cannes com "O Medo Devora a Alma", ganhando aclamação crítica e projeção internacional.

Com a repercussão, Fassbinder consegue seu passaporte para os EUA e vira assistente de direção de Douglas Sirk, alemão que trabalhava em Hollywood e era considerado o rei dos melodramas dos anos 70. Voltou para a Alemanha com força total e, enquanto fazia filme atrás de filme, era acusado de não ter estilo e de fazer "teatro filmado".

Os temas fortes, a estética kitsch, o mundo gay e as aterradoras interpretações dos atores conquistaram o mundo. Produtoras francesas e inglesas financiavam a maioria dos seus filmes, enquanto o artista recebia boicote das televisões alemãs, responsáveis pela produção do país.

Ao adaptar a obra "Querelle", de Jean Genet, com dinheiro americano, conseguiu para o papel principal o então ídolo sexual americano Brad Davis. Fassbinder morreu horas depois do término das filmagens de uma overdose de cocaína, em 1982. Não viu a polêmica que o filme causaria mundo afora, nem a solidificação de sua fama como um dos maiores diretores cult no século vinte.

Fonte: CinePlayers

» Nascimento: 31/05/1945
» Falecimento: 10/06/1982
» País de nascimento: Alemanha
» Local de nascimento: Bad Wörishofen


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