2.4.08

Cineclube Natal - 119ª exibição: A Grande Testemunha


O Ápice do Cinema de Bresson



O Cineclube Natal, em parceria com o Nalva Melo Salão Café, apresenta nesta próxima sexta-feira, 04 de abril, um dos belos exemplares do cinema francês da década de sessenta, "A Grande Testemunha", de Robert Bresson.

Bresson foi, sem dúvida um dos mais peculiares diretores franceses de seu tempo. Autor de filmes memoráveis, dentre eles "Pickpocket" e "O dinheiro", preferia não trabalhar com atores profissionais, para que a técnica não poluísse a pureza do personagem e da história contada.
Conhecido pelo rigor formal absoluto e pela obsessão em construir narrativas cada vez mais despidas de emoções manipuladoras, Bresson preferia empregar atores não-profissionais, pois achava ser mais fácil obter deles desempenhos neutros, sem expressões faciais exageradas. Por isso, "A Grande Testemunha" (Au Hasard Balthazar, França/Suécia, 1966) costuma ser considerado o filme mais bressoniano de Robert Bresson, já que o protagonista não é um ser humano, mas um burro de carga. Ao decidir narrar a história da vida desse burro (cujo nome de batismo é Balthazar), do nascimento até a morte, o cineasta francês foi coerente com os princípios que regem seu trabalho. Como é óbvio, um animal é o ator "perfeito" para um diretor como Bresson, já que um jumento não possui expressão facial, e qualquer sentimento que porventura pareça sentir aparece apenas na cabeça do espectador, previamente treinado – pelos filmes ditos "normais", que usam a gramática regular do cinema – para sentir aquilo que o personagem principal sente.

A observação do curso da vida que empreende Bresson neste filme vem pelos olhos de Balthazar, no seu percurso de dono em dono, de mal-tratos a mal-tratos. Os closes nos olhos do animal fazem dele espectador privilegiado e personagem central, que parece entender de "destino" mais e melhor que qualquer humano. Parece conhecer mais de perto o andar da vida, suas dobras, envergaduras e ironias. Quando da sua chegada ao circo, ao passar entre as celas dos outros animais, comunica-se com eles em seu silêncio, reconhecendo que tudo os ultrapassa e que seu destino, provavelmente triste, não pertence a eles.

O olhar de Bathazar que pauta todo o filme dá a exata dimensão da observação do mundo. Porque os animais sabem melhor do que ninguém do caminhar dos dias, da vida e da morte. Reagem como podem, momento a momento, a suas alegrias e infortúnios. A maneira distanciada com que percebemos os personagens bressonianos é, portanto, perfeitamente identificável com a vivência impassível dos animais, em pacto secreto com a natureza, mas livres de qualquer ação empreendedora. Que venha o que vier. Por tudo isso, "A Grande Testemunha" é, em última instância, o maior triunfo de Bresson. Nele temos uma filme capaz de fazer a platéia se comover, sentir pena, fúria e compaixão, apenas através do uso da técnica, sem que seja preciso utilizar um pingo sequer de melodrama. Trata-se, enfim, de um filme belissimamente realizado, cujo paralelo que Bresson consegue traçar entre o burrinho e sua primeira dona, Marie (Anne Wiazemsky), uma jovem apaixonada por um rapaz malvado que judia tanto dela quanto de Balthazar, é cinematograficament e impecável.
Cine Café
Sexta, 04 de abril
20h
Ingresso: R$2,00 (no local)
Informações: 3212-1655
Nalva Melo Café Salão
Rua Duque de Caxias, 110, Ribeira
[FICHA TÉCNICA: A GRANDE TESTEMUNHA]
- A Grande Testemunha (Au Hasard Balthazar, França/Suécia, 1966)
Direção: Robert Bresson
Elenco: Anne Wiazemsky, François Lafarge, Philippe Asselin, Nathalie Joyaut
Duração: 95 minutos

3 comentários:

Anônimo disse...

O que me marcou no filme foram cenas preenchidas de silêncio onde me percebi construindo o pensamento das personagens e parando para refletir sobre o que via, situação quase inexistente no cinema atual. O olhar servil e sábio do Baltazar ou burrico de cargas é encantador, sem falar nos tipos humanos que interragem ao longo do filme contando uma história que vai surpreendendo.

Pedro Fiuza disse...

Luziania,

obrigado pelo seu comentário a cerca do filmes. Esperamos em breve abrir um espaço de comentários de filmes além da divulgação.

Anônimo disse...

Sim, provavelmente por isso e