14.3.08

Cineclube Natal - 116ª exibição: Senhores do Crime

As promessas ocidentais de Cronenberg

Uma garganta serrada por uma navalha e uma jovem grávida em trabalho de parto, com sangue escorrendo de seu ventre pelas pernas: Senhores do Crime começa com uma fenda por onde vida e morte escapam. É por isso que chamam o início de "abertura", um portal que se abre sobre nossas cabeças e não nos resta outra opção senão atravessá-lo; os imigrantes russos saberão bem disso quando aportarem em Londres em busca das promessas orientais do título original deste filme do canadense David Cronenberg. Mesmo que os já iniciados na cinematografia bizarra do diretor esperassem algo muito mais radical desta releitura dos filmes de máfia, orquestrada pelo pai dos filmes em que o corpo - e suas manifestações mórbidas e bizarras - quase sempre é o protagonista, eles continuam lá, mutantes, deformados pelas cicatrizes - e cicatrizes são história – para aproximar este filme de "Gêmeos – Mórbida Semelhança", "Calafrios", "Crash" ou "eXistenZ": estamos falando de como os corpos de Senhores do Crime esticam e racham pelas pressões da justiça, marginalidade, dever e tradição. Basta assistir à já antológica cena no banheiro turco, em que, corajosamente, Viggo Mortensen exibe sem nenhum pudor a nudez de seu corpo. É a doação total de um ator à visão de um diretor em quem confia incondicionalmente.
A trama é bem simples. A trama deste "thriller" é centrada na história da parteira Ana (Naomi Watts, de "King Kong"), que trabalha em um hospital em Londres e acaba testemunhando a morte de uma jovem garota durante o parto na noite de Natal. Ana acaba decidindo descobrir mais sobre sua identidade e sua família, para quem quer dar a triste notícia pessoalmente. No entanto, a busca acaba colocando-a em perigo quando ela se depara com o lucrativo negócio do tráfico de sexo, comandado por uma organização criminosa da Rússia. Não demora até que o caminho de Ana se cruze com o de Nickolai (Viggo Mortensen, de "O Senhor dos Anéis" e "Marcas da Violência"), um homem violento e misterioso e que acaba revelando ser muito mais do que aparenta.
O filme pode ser entendido como uma espécie de tradução da obra perturbada de Cronenberg para um filme subversivamente aceitável pelos padrões gerais de qualidade, mas engana-se quem acredita que este renascimento renega por um segundo suas origens ou o seu autor.
Sessão Cine Vanguarda
Domingo, 16 de Março
17 h
Teatro de Cultura Popular
Rua Jundiaí, 641, Tirol(ao lado da fundação José Augusto)
R$ 2.00
Classificação etária: 16 anos
cineclubenatal@grupos.com.br

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