1.4.09

Cineclube Natal - 151ª sessão: Da Vida das Marionetes


Ingmar Bergman nas telas do Nalva Melo Café Salão


"Instintivamente as pessoas têm sempre medo das emoções. Na minha geração, no meu meio, educar não era formar um ser humano, mas criar uma pequena marionete, destinada a existir e a andar numa sociedade autoritária. Para que um menino não se comporte como uma menina é preciso ser duro com ele e assim, muito cedo, aprendemos a interpretar nossos papéis. Por isso, seriamente, creio que é, que seria maravilhoso ensinar o ABC das emoções. Com esse ABC eu tento trabalhar e atingir o D do abecedário, mas nós somos todos analfabetos nesse campo" Ingmar Bergman, sobre "Da Vida das Marionetes"

Nesta sexta-feira, dia 03 de abril, o Cineclube Natal, em parceria com o Nalva Melo Salão Café, tem a honra de apresentar dentro do projeto Cine Café o filme Da Vida das Marionetes (Aus dem Leben der Marionetten, Suécia/Alemanha, 1980), uma das obras mais complexas e radicais do mestre Ingmar Bergman. A sessão começa às 20:00 horas e a entrada custa R$ 2,00 (dois reais).

A história do filme versa sobre Peter Egerman, um executivo bem sucedido que vive um casamento conturbado com Katarina. Dias depois de ter um sonho no qual mata a esposa, Peter sai com uma prostituta e mata-a. Qual seria a explicação dessa tragédia? Em Da Vida das Marionetes, Bergman explora, com intensidade e ousadia, a mente de um homem levado ao extremo a partir do relacionamento desse casal problemático.

Os eventos do filme são desnudados de forma extremamente violenta pela câmera do diretor. A narrativa nos relata os momentos anteriores e posteriores do incidente. Gradativamente, as vidas do assassino e de sua esposa vão se desintegrando em meio às neuroses daquele e a lascívia latente desta. Tudo nos é contado de forma desconexa, onde a história vai e volta no passado. Somos jogados no meio da relação do casal, percebendo o quanto a sua aparente "vida livre" nos revela uma esposa sexualmente repressiva e um marido tão carente quanto neurótico.

Ingmar Bergman
, mais uma vez, desconstrói os relacionamentos humanos através da vida de um casal em crise. Pode não parecer, mas eles estão tão distantes um do outro quanto um outro casal famoso do cinema de Bergman: Marianne e Johan de "Cenas de um Casamento".

O filme Da Vida das Marionetes surgiu durante a mais dura fase da vida de Ingmar Bergman. Na época, o cineasta sueco foi acusado de sonegar impostos no seu país natal, tendo que fugir para evitar a cadeia. Sendo assim, Bergman se estabeleceu em Munique, na Alemanha, onde passou a dirigir um teatro. Para lidar com a ansiedade, tomava remédios contra a depressão e insônia. Um péssimo momento para um ser humano comum trabalhar, mas não para Bergman. Durante a carreira prolífica, ele se tornara especialista no ato de sintetizar fantasmas pessoais em poderosas reflexões sobre os dramas da condição humana (vide "Fanny & Alexander"). Desta forma, como fazem todos os grandes artistas, transformou o próprio sofrimento em um impressionante e perturbador pesadelo sobre sexo, morte e máscaras sociais.

Por diversas razões, Da Vida das Marionetes jamais recebeu a merecida atenção da crítica especializada. Para começar, a própria condição de exilado limitava a participação de Bergman em festivais de lançamento. O filme também reprisava temas (o medo da morte, a dor inerente à alma humana, as prisões sociais) e situações dramáticas (um casal em crise) muito comuns à obra do diretor sueco, algo que para muita gente rebaixava a obra. Foi produzido com baixíssimo orçamento, sendo lançado sem badalação. Adotava o formato "quadrado" de imagem (1.33:1), como o de um aparelho de televisão tradicional (já que havia sido feito para a TV alemã), o que reduzia as chances de ser exibido em circuito amplo de cinemas. Por fim, o próprio cineasta já acalentava a idéia de aposentadoria, o que lhe levava a ser visto por cinéfilos de todo o mundo como um diretor ultrapassado, um dinossauro que não tinha mais nada de novo a dizer - ironicamente, Bergman ainda dirigiria muitos filmes depois deste.

Definitivamente, Da Vida das Marionetes, por todos os motivos expostos, não está na linha dos filmes mais conhecidos da filmografia do brilhante cineasta, mas da sua vasta e densa produção cinematográfica é sem dúvida um dos mais psicanalíticos, e por isso mesmo um dos mais humanos. Mais uma boa oportunidade para o público natalense conhecer melhor o cinema de Bergman e, de quebra, degustar um bom café.

Assista aqui a algumas cenas (em alemão com legendas em espanhol) de Da Vida das Marionetes:


Sessão Cine Café

Sexta, 03 de abril
20 horas
Nalva Melo Café Salão
Av. Duque de Caxias, 110, Ribeira
Fone: 3212-1655
R$ 2.00
Classificação indicativa: 18 anos


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[FICHA TÉCNICA: "DA VIDA DAS MARIONETES"]
Título original: Aus dem Leben der Marionetten
País: Alemanha Ocidental / Suécia
Ano: 1980
Duração: 104 minutos
Cor: preto e branco / colorido
Idioma: alemão
Gênero: drama
Estúdio: Austrian Broadcasting Corporation (ORF), Incorporated Television Company (ITC), Personafilm, Zweites Deutsches Fernsehen (ZDF)
Roteiro: Ingmar Bergman
Direção: Ingmar Bergman
Produção: Ingmar Bergman, Richard Brick, Lew Grade, Helmut Rasp, Martin Starger, Horst Wendlandt
Fotografia: Sven Nykvist
Música: Rolf A. Wilhelm
Direção de Arte: Hebert Strabel
Desenho de Produção: Rolf Zehetbauer
Figurino: Charlotte Flemming
Edição: Petra von Oelffen
Elenco: Robert Atzorn, Heinz Bennent, Martin Benratch, Toni Berger, Christine Buchegger, Gaby Dohm, Erwin Faber, Lola Müthel, Ruth Olafs, Karl-Heinz Pelser, Rita Russek, Walter Schmidinger

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